Evangelho segundo um Amnésico
Tomo Primeiro: Das Origens
I-Em princípio, não era.
II-Não se sabe como o Não Ser veio a Ser, ou se as coisas ocorreram dessa forma; mas, como a Humanidade Legítima é movida por uma curiosidade tão insaciável quanto frequentemente inútil, alguns indivíduos inferiram de certas experiências fora de seu modo cotidiano de avaliar a existência, os conceitos de Início e de Finalidade, neles baseando uma busca pelo conhecimento dessa existência que perdura ainda hoje.
III-Sabeis agora que há uma Humanidade Legítima, com todos os seus nem sempre agradáveis atributos, e certas Entidades Disfarçadas que, por motivos ainda por explicar, caminham entre os Legítimos, e a partir de certa época obscura vêm se multiplicando em número muito superior ao desses Legítimos, trazendo uma confusão ainda maior que aquela a que tais Legítimos são já naturalmente propensos.
IV-Os Pioneiros entre os Explicadores criaram uma ferramenta chamada Nome, cuja função era tornar manipulável o Ser a sua volta e em si mesmos, e que teve o inesperado efeito de mascarar esse mesmo Ser, de tal sorte que os erros e mentiras mais crassos e as descobertas e invenções mais sublimes vieram a ocorrer com o passar do tempo, em decorrência de seu uso.
V-Com a crença na Divindade e sua responsabilidade numa suposta Criação De Tudo Que Existe, Nós (os Legítimos e os Disfarçados tomados como um todo) passamos a criar Leis, para abrandar Nossa incapacidade de viver com as consequências de Nossas próprias ações. Sendo Nós como Somos, in continenti tempore* criamos as Trangressões de tais Leis, e os consequentes Castigos a elas relacionados.
VI-Como consequência desse modo complexo de agir surgiu a crença numa batalha entre o Ser Exterior e Interior de Nós mesmos, e aquilo que observamos e tomamos como sendo a totalidade destes mesmos Exterior e Interior; em outros termos, criamos a Suprema Confusão entre aquilo que somos momentaneamente capazes de observar e aquilo que efetivamente sabemos.
VII-O que Nós momentaneamente somos capazes de observar é óbvio em si; o que efetivamente sabemos do que existe ou deixa de existir é expresso numa única Palavra:
VIII-Nada.
IX-Por conseguinte, vivemos à procura de uma Salvação, ainda que não saibamos de que devamos ser salvos ou para que, e que não estejamos de modo algum dispostos a pagar qualquer preço que seja por um tal benefício; profundamente, por menos que admitamos, temos sérias dúvidas a respeito dessa anelada benesse. Tanto isso é verdade que criamos e recriamo-la de acordo com Nosso humor momentâneo. Quiseramos ter certeza de alguma coisa nessa vida e lutamos por alcançá-la, ou defendemo-la como se já a possuíssemos; seja com for, Nossos supostos Salvadores tornam-se oferendas nos Autos Sacrificatórios que erguemos àquilo que não sabemos.
X-Industriosamente, Nós criamos habitações e conflitos, enxergamos belezas e ilusões, prestamos culto às Nossas vaidades e espalhamos inocentes Glórias sobre o planeta. Em suma, vivemos na plenitude de Nossa ignorância e na insuficiência de Nossa Razão.
XI-Ao fim e ao cabo, fazemos somente aquilo que queremos fazer; ao resto damos o Nome de Sofrimento. Este tem um papel secundário em Nossa existência que, no entanto, deve ser enfatizado, visto que tantos entre Nós julgam-no de soberana importância.
Finda o primeiro capítulo.
Latim tardio: Sem demora; sem intervalo; sem interrupção; sem detença; imediatamente.
Fonte: Dicionário Aurélio Século XXI.
2 contrapontos:
Amnésico, querido!!!
Você continua escrevendo muito bem..
e essa cabecinha pensante, cada dia mais louca...! rsrsrsr
Beijaum
Acha mesmo? Hmmmmmm... Será que devo tomar alguma providência?
Até já tentei yoga, mas meus joelhos estalam feito doidos naquela postura de lótus, OMMMMMMM!
Hahahahaha!
Beijão!
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