20 de jul. de 2007

A barriga

Conto de V. (1974)

Quando chegou ao décimo-terceiro mês de gravidez, Gertrudes começou a se preocupar. Ela não sabia, mas já era tarde.
Dentro de sua barriga, o feto não era mais feto: era um bebê lindo, mais de três quilos, já abria os olhos azuis e procurava a mãe pelas paredes do útero. Com seis meses de vida, ele tomou consciência de que seu mundo era ali mesmo e jamais encontraria sua mãe. Com um ano de idade, já desenvolvera uma linguagem própria. E falava sua língua com ele mesmo e resolveu dar-se o nome de Vahal.
Vahal crescia forte, alimentando-se do sangue que circulava pelos canos que havia em diversas partes de seu mundo. E não ficou muito surpreso quando viu que um novo ser estava se desenvolvendo ao seu lado. Acompanhou curioso o desenvolvimento da criatura, viu como ela crescia de um dia para o outro e notou que ela ia tomando formas parecidas com as dele.
Depois de nove meses e dez dias de crescimento, a criatura começou a chorar e Vahal entendeu que ela havia nascido. Deu-lhe o nome de Haval, tomou conta dela durante os primeiros meses, zelou pelo seu crescimento sadio e ficou muito contente quando notou que Haval entendia perfeitamente sua linguagem e gostava muito daquele mundo.
Viveram em alegria infantil na barriga de Gertrudes até Vahal completar 15 anos de idade. Foi no dia de seu aniversário que ele declarou seu amor por Haval e ficou muito feliz ao saber que ela também o amava. Casaram-se e decidiram ter muitos filhos. E naquela mesma noite, entregaram-se um ao outro e copularam em paz até o dia raiar.

Quando chegou ao décimo-terceiro mês de gravidez, Haval começou a se preocupar. Ela não sabia, mas já era tarde...

3 contrapontos:

Anônimo disse...

Genial esse jogo de espelhos! Fiquei até aflita

vera maya disse...

Hummmm..
Nao seria a Gertrudes a mãe Terra??
Aflição sim....
Bjaum

R. S. Diniz disse...

Se eu estivesse recluso em meu quarto, munido duma garrafa de vinho e dum maço de cigarros Gudang, eu podia meditar por horas em cima desse texto e tenho a impressão de que quando terminsasse, não seria mais a mesma pessoa...