Ventos Uivantes
De que valeu minha obstinação, meu ódio? De que adiantou o castigo imposto àqueles que me desprezaram toda a vida, ao custo de me desprezar a mim mesmo?
Fiz de minha vida o que queria que ela fosse; sou o senhor absoluto de um deserto de cinzas de esperanças calcinadas, salpicado dos esqueletos monstruosos de minhas lembranças. Sob um céu de emoções cor de sangue coagulado, sou Rei no Nada em que me converti e o trovão que chacoalha o horizonte morto é minha gargalhada de desalento.
Terei errado? Deveria me arrepender e engolir o orgulho ferido? Morrer escravo de outros, eu que nasci senhor de mim mesmo?
Alegrias, tristezas... meras espirais de fumaça no ar congestionado: minha herança pela magna opus de destruição rancorosa. Irracional? De modo algum: exaustivamente planejada nas noites insones desde a infância, obsessivamente executada na monomania de um coração ofendido, sofregamente fruída no prazer demente da consciência dilacerada, dilacerada, dilacerada. Não, eu não perdi nenhum detalhe.
Sou um esteta do desperdício, um artista do inútil, zero à enésima potência.
Amigos? Amores? Para que?
Quem quereria caminhar comigo rumo ao Vazio?
Cansaço. Insensibilidade. Indiferença. Não quero pensar, não quero falar, não quero ver ninguém, não quero sentir; não há diversão ou aborrecimento no meu caminho. Não há nada senão contemplar a devastação, ao vento áspero que castiga olhos que não sabem chorar...