20 de jun. de 2008

Ventos Uivantes

De que valeu minha obstinação, meu ódio? De que adiantou o castigo imposto àqueles que me desprezaram toda a vida, ao custo de me desprezar a mim mesmo?

Fiz de minha vida o que queria que ela fosse; sou o senhor absoluto de um deserto de cinzas de esperanças calcinadas, salpicado dos esqueletos monstruosos de minhas lembranças. Sob um céu de emoções cor de sangue coagulado, sou Rei no Nada em que me converti e o trovão que chacoalha o horizonte morto é minha gargalhada de desalento.

Terei errado? Deveria me arrepender e engolir o orgulho ferido? Morrer escravo de outros, eu que nasci senhor de mim mesmo?

Alegrias, tristezas... meras espirais de fumaça no ar congestionado: minha herança pela magna opus de destruição rancorosa. Irracional? De modo algum: exaustivamente planejada nas noites insones desde a infância, obsessivamente executada na monomania de um coração ofendido, sofregamente fruída no prazer demente da consciência dilacerada, dilacerada, dilacerada. Não, eu não perdi nenhum detalhe.

Sou um esteta do desperdício, um artista do inútil, zero à enésima potência.

Amigos? Amores? Para que?
Quem quereria caminhar comigo rumo ao Vazio?

Cansaço. Insensibilidade. Indiferença. Não quero pensar, não quero falar, não quero ver ninguém, não quero sentir; não há diversão ou aborrecimento no meu caminho. Não há nada senão contemplar a devastação, ao vento áspero que castiga olhos que não sabem chorar...

18 de jun. de 2008

Em manutenção, ou
Comportamentos de risco & suas conseqüências

Os dias alternam violentamente calor e frio aqui no fim-de-mundo (= gripe!). Meu computador continua à beira de uma falência múltipla de dispositivos, e para completar mergulhei de cabeça numa das minhas periódicas crises depressivas. Life is good...

Com tudo isso, pus minha paranóia informática de lado e nos últimos dias (ou semanas, já nem sei) deixei de fazer a manutenção rotineira no ferro-velho. Os travamentos foram ficando cada vez mais freqüentes, a conexão com a internet inviável, minha paciência se esgotando em progressão geométrica: estive a ponto de cometer um informaticídio!

Uma brecha, porém, se fez nesse cenário sombrio e com muito custo e paciência acabo de proceder a um check-up em regra na máquina; descobri contatos elétricos sujos, cabos rompidos, peças móveis engripadas, o sistema operacional entupido de lixo e, de quebra, dois trojan horses e um backdoor infectando-o. Minha inatividade desses dias ganhou nome e sobrenome: imprudência e negligência. Combina comigo...
Assegurada alguma sobrevida ao micro, é minha vez de tentar sair do fosso. E eu sempre saio, isso é líquido e certo. Nem que seja pior do que quando entrei...



Saudações, povo da superfície!

8 de jun. de 2008

O martírio do artista, de Augusto dos Anjos

 "Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!


Tarda-lhe a idéa! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!


Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à mingua
Da própria voz e na que ardente o lavra


Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!"

5 de jun. de 2008

Piada sem graça

Meu computador subiu no telhado...