A uma taça feita de um crânio humano (1808)
De lorde Byron
Tradução de Castro Alves
Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria -
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
Mais val guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
-Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do reptil.
Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
... Podeis de vinho o encher!
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...
13 contrapontos:
Lines Inscribed Upon a Cup Formed from a Skull
Start not - nor deem my spirit fled;
In me behold the only skull
From which, unlike a living head,
Whatever flows is never dull.
I lived, I loved, I quaffed, like thee:
I died: let earth my bones resign;
Fill up - thou canst not injure me;
The worm hath fouler lips than thine.
Better to hold the sparkling grape,
Than nurse the earth-worm's slimy
brood;
And circle in the goblet's shape
The drink of gods, than reptile's food.
Where once my wit, perchance, hath shone,
In aid of others' let me shine;
And when, alas! our brains are gone,
What nobler substitute than wine?
Quaff while thou canst: another race,
When thou and thine, like me, are sped,
May rescue thee from earth's embrace,
And rhyme and revel with the dead.
Why not? since through life's little day
Our heads such sad effects produce;
Redeemed from worms and wasting clay,
This chance is theirs, to be of use.
Aproveito a falta de inspiração própria para homenagear meu crânio humano (o outro).
Foderoso. Adoro poemas assim!
E... beber no crânio dos inimigos era uma prática muito comum entre os antigos vikings. Conta-se também que durante o brinde eles gritavam "skol!", que quer dizer caveira, e daí surgiu o nome dessa cerveja. E beber no crânio do Vladimir era um sonho que eu tinha, e confesso que ainda tenho.
E por falar em mitologia nórdica, escrevi um conto sobre um maluco que fuma salvia divinorum e fica pendurado de cabeça pra baixo numa árvore (que nem Odin!) e através de uma viagem surreal, ele descobre que Astarte, Jesus Cristo e Lúcifer são representações da mesma idéia porém cada uma associada a uma Era diferente.
Ele vai descobrir também que as histórias de Prometeu, Cristo e Lúcifer falam da mesma coisa.
Mas o conto ainda não esta pronto, e eu ainda não cheguei nessa parte. E estou na dúvida se coloco o coelho branco ou o Dragão do Mar (uma entidade de uma obscura religião brasileira chamada Barquinha).
E ainda pus uma referência ao Espantalho. E acho que vou colocar uma ao "seu" doppelganger também. E desculpe pelo tamanho do comentário, é que você é a primeira pessoa para quem estou dizendo isso, escrevi a primeira parte ontem.
Possivelmente essa euforia literária se deve ao fato de que eu li três edições de Os Invisíveis, uma atrás da outra, e estive a beira de uma overdose místico-filosófica-literária.
Um abraço, e até breve!
Caralho, agora que eu fui perceber! 23 de novembro foi o dia em que, anos atrás, os leitores de Os Invisíveis se masturbaram em conjunto para energizar um sigilo que o próprio Grant Morrison fez com o intuito de aumentar as vendas da revista!
Eu sentia que esse dia teria ainda algum tipo de energia para aqueles que de alguma forma estivessem relacionados ao Caos e essas coisas, mas nem me liguei que provavelmente o que me influenciou a escrever esse conto foi a data!
Ah, e me desculpe por esse outro surto. Eu ainda não voltei ao normal. Portanto, cuidado com o que lê.
Bem ao estilo Byron.
E pensar que de simples cranios humanos saíram as palavras mais belas e profundas capazes de ultrapassar séculos, e ao mesmo tempo, saíram os crimes mais pervesos capazes de dizimar uma população inteira.
Texto bacana, como sempre.
Abraços!!!
E nessa mesma linha, te convido a ler:
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http://emlinhas.blogspot.com/
EM LINHAS...
Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã.
Novo texto: Uma Pequena Dose de Vinho Amargo
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Cara, uma das coisas mais difíceis de se fazer é traduzir poesia. Pra falar a verdade, na minha opinião não existe tradução de poesia é de jeito nenhum, porque o texto da tradução, se bom, acaba por se transformar em um outro poema. Se ruim, nem por poesia pode ser tratado.
Digamos, então, que esse post é um poema de Castro Alves, inspirado num outro, de Byron.
Eu, particularmente, prefiro o do Byron.
Qual a tua opinião a respeito?
Quanto ao monólogo stevensoniano: É bom demais ser tantos, né não? Até pra poder servir de advogado do diabo num debate consigo mesmo. E viva Raul Seixas.
Sim, muchas gracias pela efusividade no Brinquedo Barato. A apreciação alheia é sempre muito bem-vinda!
Fantástico! Adorei essa estrofe:
"Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!"
Diz tudo sobre o objetivo da vida: Viver. Depois dela, nada mais interessa para quem vai.
Um abraço.
PS: Você foi Vítima de uma MEME. Para ver o seu algoz acesse:
http://www.umpaischamadouati.com/blog
Eu sou simplesmente apaixonada pelo Byron. Fascinada, maravilhada... o cara é foda demais! Baudelaire também!
Beijo meu, moço.
Eu gosto do Byron, mas não entendi metade do que ta escrito,
Mas visualisei a taça de crânio, eu beberia de boa se tivesse vinho por la.
Só me falta o vinho!
Saudades daqui!
Fantástica tradução de um fantástico brasileiro.
Beijo p vc!
amigo
num posso ler byron naum
tow gripado
vai q me animo
transformo essa gripe em pneumonia
olha...
um perigo
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