11 de out. de 2007

Nietzscheando

Ele foi visto pela primeira vez caminhando na estrada, seguindo a linha dos canaviais sob o sol escaldante. Vinha seguido por um grupo de cães vadios e um enxame de gafanhotos; não carregava um bastão de peregrino, nem uma trouxa na ponta de uma vara, nem mesmo um mísero mp3 player.

Zaratustra Jr. havia tomado uma cerveja a mais e ficara sem dinheiro para o ônibus. Oh, dura vida dos profetas...

Não encontrara ninguém a pé no caminho a quem pudesse falar da sabedoria das idades e que lhe oferecesse um cigarro; os carros e caminhões que passavam por ele só tinham palavras rudes para a sua pessoa e a de sua mãe. Mas ele soube responder à altura as provocações do mundo, e felizmente ninguém se deu ao trabalho de voltar para tomar satisfações: ele tinha a língua afiada dos que viram a realidade por trás do véu e tinha o estômago embrulhado de acordo...
Chegado à pequena cidade, olhou ao redor e assim falou Zaratustra Jr.:

"- Mas que lugarzinho de merda! Bom, quem não tem cão..."

Procurou a companhia das mulheres e foi rejeitado com um misto de ridículo e pena. Não era a primeira vez.
Tentou então pregar aos homens, numa tentativa de afastá-los das trevas que os encobriam e cegavam; parou quando eles começavam a arregaçar as mangas e recolher pedras e paus nas ruas. Pensou mesmo ter visto um machete de cortar cana, mas não ficou para averiguar. Seu caminhar o levou a uma praça vazia, onde ficou vagabundeando, cercado por novos cães vadios, enfim livre dos gafanhotos; estes foram substituídos pelas moscas.

Ali ficou por três dias, em retiro. Não lhe deram um único cigarro, os miseráveis!

Vendo que nada adiantava, resolveu cair na real e ir para casa. Ali fumou, foi ao banheiro e reconheceu a enormidade da tarefa que se lhe impunha: a divulgação da visão que lhe fora revelada e a exposição das falácias da vida pós-moderna, custasse o que custasse.

Suas a partir de então lendárias dores de cabeça começavam naquele momento...

18 contrapontos:

ex-amnésico disse...

Pensamentos podem ser tão insistentes que acabam por adquirir uma vida independente e tomar iniciativas; no caso presente, o fazem na forma de uma 'personagem', por cujas palavras sou tão responsável como quanto pelo resto do que faço aqui. Ou seja, lavo minhas mãos.

Estão apresentados. Boa sorte a vocês.

Anônimo disse...

Falta-lhe então um banquinho, pra ficar apenas um pouco acima de nós: o suficiente para expor das falácias da vida... E não precisa ser muito alto, já que essas falácias já estão pelo pescoço, roubando-nos o ar e as palavras.

p.s.: quanta a imagem do cabeçalho, não era minha, não podia usá-las por muito tempo. Mas é aquilo, eu e um gato, na verdade dois

vera maya disse...

Obaaaa..

Quero mais!

Gosto sim..


Bjo

Danilo Moreira disse...

Texto ineteressante. Parece aqueles jovens revolucionários dos anos 60 q saíam por ai sem lenço nem documento querendo mudar o mundo e a mente das pessoas. No fim percebem q foram vítimas das "falácias da vida" e principalmente da sua propria imaturidade.

Qto ao comentário no meu blog, realmente vc citou o outro lado da moeda, apesar de que a proposta da postagem não foi de discutir os atos do Harry Potter da 3º idade, porem, concordo com vc, é meio q "faça o q eu digo, mas não faça o q eu faço".

Agora, essa eu não sabia, ele usa peruca???

Vc escreve muito bem. Preserve isso, pq as palavras quando são bem ditas (ou escritas) se tornam imortais.

Abraços!!!!

Bárbara Lemos disse...

Hummm.. seria este trecho também útil à Hitler, assim como foi à obra que "parodiaste"?

É um estiloso perigoso de escrita, várias interpretações, várias. Cuidado. Mas muito bom, claro.

Beijo meu.

Danilo Moreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Danilo Moreira disse...

Blz? Cara, fique a vontade para visitar e principalmente comentar no meu blog sempre que puder. Pode adicionar tb. Posso fazer o msm com o seu? Gostei muito da qualidade das suas postagens, vc tb sabe escrever muito bem. Posso te add tb?

Abraços!!!!

http://emlinhas.blogspot.com/

Danilo Moreira disse...

Cara, agora observando bem a foto do Bill Gates, aquele cabelo dele tá meio suspeito msm... rsrsrs

FOXX disse...

estou digerindo este texto ainda
naum desceu taum suavemente naum

Danilo Moreira disse...

Ta adicionado. Vlw!!!!

Orange disse...

Ele foi ao banheiro, e divulgou as falácias sobre a vida moderna.
Eu subjetivei isso de forma bem escatológica. E fico até divagnado se essa não foi a real intenção.



Hum, o "The Universal" foi pro saco. Nunca imagine isso de forma escatológica, é possível de causar imagens que queimam o seu cérebro.

Tatá disse...

Adorei seu post...e seu blog é um encanto.
Voltarei sempre.
Beijos

Bárbara Lemos disse...

Calma, calma.
Houve todo um esforço por parte de Hitler para que Zaratustra fosse interpretado do jeito que foi e alimentasse o que alimentou.

O comentário foi apenas ilustrativo. Não leve tão à sério. Continue escrevendo, tenho certeza que te entenderão da maneira correta (aqueles que conseguirem claro, os outros nem merecem atenção).

Quanto ao musa,hmm, estou longe disso, moço.

Beijo meu.

Blog Dri Viaro disse...

Visite :)

http://adrianaviaro.blogspot.com/

vera maya disse...

Eba eba eba..
Li seu conto, lá no "Contos.."
Parabéns, amnésico..ia duvidar mesmo de haver um melhor..
Apenas o primeiro de muitos prêmios, certamente!

Bjos

Fernanda Passos disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk. Fantástico! Zaratustra Jr. Essa foi boa!
Saquei tua divagação filosófica, mas, além de Nietzsche, percebi Platão infiltrado aí......o pregador do mito da caverna querendo mostrar as luzes. O mais legal é que, tanto lá - em Platão -, como na relação que vc estabeleceu com Nietzsche, o profeta, o filósofo, os que buscam conscientizar são desprezados. E olha que séculos e séculos estabelecem um hiato entre esses moços citados por mim.

Mas te digo uma coisa.....Zaratustra Jr, tadinho, não poderia ter nada menos que uma boa enxaqueca ao acreditar no que seu pai disse. Essa compreensão Nietzscheana de pós-modernidade e suas mazelas não entra em harmonia com meus pensamentos. Mas deixa isso pra lá.......sem dúvida é coisa de meu viés marxista.
Um grande beijo.
Excelente texto.

Fernanda Passos disse...

Ei! tava falando agorinha do teu texto com uma amiga. N sei se te contei, mas sou formada em filosofia e adoro o teu jeito de falar sobre ela. Falamos muito de teu blog. Me diz teu nome?

Johnny disse...

"Seu caminhar o levou a uma praça vazia, onde ficou vagabundeando, cercado por novos cães vadios..."
Cães Vadios? rs...

Lembrei desses aqui:
http://www.geocities.com/kaesvadius/index2.html

Abraço!